sábado, maio 28, 2016

Mas também….

O crime que revoltou o Brasil na semana passada não é algo anormal, na realidade a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil. Porém, o fato barbárico de terem sido 33 animais que se vangloriaram em rede social do ato cometido trouxe a tona o assunto que jamais deveria sequer ser esquecido. Este assunto também trouxe a tona os comentários sarcásticos de quem ainda acha que a culpa é da vítima e por isso o meu post está sendo entitulado “mas também”.

A lógica de quem coloca a culpa na vítima (seja qual for o caso) é a seguinte:

  • O cidadão trabalha, estuda e sempre galga ter algo melhor nada vida. Poder oferecer conforto para sua família e curtir o RESULTADO do trabalho. O cidadão compra um carro bom, uma boa casa, se veste com as roupas que ele gosta e ao ir passear em um local público é assaltado. Levam relógio, celular, tênis de marca, etc. 
    • A lógica do “mas também” vem e diz: mas também, fica esbanjando riqueza, andando com relógio bom e passeando com carrão, taí, se lascou.
  • A garota usa uma saia mais curta (pois gosta), ela coloca fotos na rede social mostrando seus atributos que foram fruto de treino, boa alimentação (ou simplesmente genética). A garota é estuprada.
    • A lógica do “mas também” vem e diz: mas também, fica se exibindo com essa microsaia, tá pedindo para ser assediada. Taí, bem feito.
  • O cidadão tenta usar do seu direito de liberdade de expressão, vai para faculdade com a camisa de um candidato. Chegando nesta universidade que é um redulto da ideologia contrária ao candidato, começa a repudiar o cidadão, falando palavrões e até chegando a agredir físicamente.
    • A lógica do “mas também” vem e diz: mas também, vai para universidade vestindo essa roupa de facista, tem mais é que se fuder mesmo. 
Nestes três exemplos há uma coisa em comum: a intolerância. Se você concorda com o exemplo dois mais acha que os exemplos um e três são merecidos, então você é parte sumária do problema. É muito fácil sermos tolerante com o que concordamos e acreditamos, mas se queremos diversidade precisamos olhar para todos os lados e RESPEITAR a todos.

Em Fevereiro e Março fui para dois shows do Iron Maiden, em Fevereiro em Tulsa, Oklahoma e em Março em Tacoma, Washington. Nestes dois shows tinha representantes de Igrejas Batista com um cartaz imenso dizendo “Jesus Salva” e pessoas pregando na fila, para a multidão de preto. Sabe o que aconteceu com estes crentes? Nada. Sabe o que os “Metaleiros” fizeram? Nada. Simplesmente ignoraram e alguns até chegavam perto e batiam foto com a pessoa. Isso chama-se tolerência e respeito. Mas no Brasil, se isso ocorre, alguém vai lá e mete o sarrafo no cara, e aí vem a turma do “mas também” e diz: mas também, fica pregando Jesus no meio de um monte de metaleiro, taí bem feito.

Pois é, se você pensa assim: VOCÊ É PARTE DO PROBLEMA!!!

É muito bonitinho se revoltar, trocar foto de perfil no Facebook, quando a coisa atinge diretamente agente, mas a pergunta que fica é: no dia a dia, você usa a lógica do “mas também”? Não adianta vir para mim e dizer que é uma questão cultural ou de tradição, nem tudo que é cultural e feito a anos é correto (vide o meme abaixo).

TRADIÇÃO - Só por que você sempre fez desta forma, não significa dizer que você não é incrivelmente estúpido.

Vejo pessoas que tem dois carros (um bom e um lascado) para poder viver sem ser assaltado. Pois no dia a dia usa o carro fudido e somente em algumas situações usa o carro bom.  Isso foram um dos motivos que me levaram a sair do Brasil a 13 anos atrás, a impossibilidade de usufruir do fruto do meu trabalho, pois sempre vivia com medo de ser assaltado e sempre me neguei a ser um seguidor da cultura do “mas também”.

Por fim vamos deixar bem claro: a vítima não tem culpa. Nos três casos acima, os que sofreram com a intolerância da sociedade são vítimas e ponto final.

Nenhum comentário: