terça-feira, agosto 09, 2016

Olimpíadas 2016 - Muitas lições em pouco tempo

Ao contrário da Copa, onde o foco era apenas um esporte, as Olimpíadas trazem diferentes esportes e diferentes perspectivas de preparação física e mental que cada atleta precisa passar. Existe um clima diferente ao se dizer: sou um atleta olímpico. Independente de qual país seja, um atleta olímpico está alí depois de muito esforço pessoal, não interessa se o mesmo está em um país rico ou pobre, o esforço individual da classificação para tornar-se um atleta olímpico tem que ser respeitado.

Muitos deles tem um grau de dificuldade de vida maior, mas na hora que estão na quadra, no tatâme, no campo, na pista, na piscina, ou seja onde for: eles são todos atletas olímpicos e precisam ser respeitados por isso. Respeito esse que vai muito além de partido político, situação financeira do páis a qual o atleta representa, regime, religião ou qualquer outra influência externa. Trata-se de um atleta que passou anos se preparando para talvez performar por apenas um minuto, e esse um minuto para ele é sagrado e precisa ser aplaudido – e não vaiado.

O desrepeito ao vaiar-se um atleta olímpico é uma falta de educação tremenda, que infelizmente é algo que vem acontecendo no Rio 2016. Sim, a festa de abertura foi perfeita, foi fantástica, agora vamos também mostrar educação durante os jogos, pois o que se vê são manifestações como se estivesse ali jogando dois times de futebol local. Você sabe o que um atleta olímpico ralou para estar ali e você vaiar? Então cale-se!

Atleta olímpico é superação independente de nacionalidade, por sorte ontem tivemos uma Brasileira que mostrou uma raça e um coração enorme, que talvez muitos brasileiros (os que criticaram ela) nem mereçam. Não tenho dúvidas que a disciplina militar da Marinha do Brasil ajudou a esculpir esta campeão, que enfrentou críticas e preconceitos. Mostrou que disciplina, consistência e acima de tudo: vontade de vencer acreditando em você e nas suas capacidades, podem lhe levar longe. Parabéns Rafaela!


E para quem acha que no esporte existe fronteiras e que só por que está nos EUA já vai dar tudo certo, Simone Biles é um exemplo de quem teve sérios problemas na infância. Filha de uma mãe viciada em drogas acabou tendo que ser adotada por uma outra família e nessa turbulência, encontrou no esporte (ginástica) uma forma de concentrar seus esforços e sua força. Hoje está no Rio, entre uma das melhores dos time dos EUA.

Para os “não atletas”, muitas vezes um minuto não é nada, e é aí que muitos cometem um grande erro: ignorar os detalhes. Na minha época de colégio, como golerio de Futsal eu tinha a noção que um minuto era suficiente para mim ser o heroi da partida ao defender uma bola difícil, ou o vilão ao levar um frango. Então sempre me antentei muito aos pequenos detalhes, depois que deixar de ser atleta e o bucho cresceu, comecei a ignorar um pouco os detalhes, inclusive o tamanho da pança. Somente depois de voltar a ser atleta já nos 39 anos, vi o quão importante é manter-se atento aos detalhes em tudo que faz nada vida.

Quantas pessoas eu já entrevistei para entrar no meu time na Microsoft que bombaram logo nos primeiros 2 minutos por falta de preparação? Várias! Esta primeira impressão e este primeiro contato fica marcado, e torna-se complicado reverter (note que digo complicado, e não impossível). O mesmo ocorre quando estou palestrando, e tento fazer dos primeiros minutos da palestra algo que imediatamente faça com que o cara pense: opa, vim para o canto certo! Detalhes...detalhes e mais detalhes!

No fisiculturismo treinamos o ano todo para 1 ou 2 minutos de comparação no palco. Tudo é importante, não só o tamanho muscular, mas a definição, simetria e principalmente: como você se apresenta. Na minha última competição estava esperando entrar e no backstage vi que o grupo era equilibrado, mas tinha um cara que se destacava, e pensei: é, esse aí pode me bater. Porém ao entrar no palco e começar as poses mandatórias para avaliação, percebi que ele não sabia pousar, o cara era grande, mas não sabia contrair o músculo ao ponto de destacá-lo. Durante minha preparação treino isso pelo menos um hora por dia, três vezes na semana. Repetitivo, uma hora de poses mandatórias, faz, refaz, faz de novo, até exaustão. Então para mim, ao perceber isso, não só me senti mais confiante mas também usei ao meu favor.


Preparação é super importante! Desde 2011 eu e o Tom Shinder palestramos juntos, e uma coisa que sempre fazemos duas semanas antes da nossa apresentação é ensaiar. Fazemos uma sessão Skype, compartilhamos nossa deck e cada um fala sua parte. Identifcamos pontos de melhora um do outro e partimos adiante para melhorar no segundo ensaio. Ao chegamos no palco sabemos exatamente o que cada um vai falar, o ponto que devemos interromper, e até mesmo as brincadeiras que podemos fazer.


Minha filha Ysis tem 7 anos, começou a tocar bateria com 6 e já fez vários shows aqui no Texas. O Professor dela no último show deu uma música considerada difícil para a idade dela, trata-se da música Eletric Funeral do Black Sabbath. No primeiro dia que estavamos em casa tocando ela literalmente chorou dizendo que era muito difícil e não ia conseguir. Eu olhei para ela e disse: você vai conseguir, mas para isso você precisa praticar, e depois pratica mais, e quando estiver cansada, pratica mais ainda. Ela respirou fundo e voltou para bateria, ficou praticando e melhorando. Durante um mês ela tocava essa música todo santo dia, mais de uma vez por dia. Resultado: no dia do show arrebentou! Prática leva a perfeição, em tudo que se faz na vida.


Temos muito para aprender com os atletas que praticam seus movimentos diariamente, várias vezes por dia até a exaustão. Temos muito que aprender com estes atletas que nunca desistem, mesmo quando a situação não está favorável. Temos muito que aprender com estes atletas que estão sempre atentos aos detalhes.

Da próxima vez que pensar em vaiar um atleta, reflita e apenas aplauda!
  

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