terça-feira, fevereiro 11, 2014

Ensinamentos do meu Pai – é possível mudar mesmo tendo uma ideologia

Já fazem dois dias seguidos que sonho com meu Pai, o primeiro sonho foi um pouco triste pois foi uma lembrança de quando ele estava no hospital e eu estava do lado dele, a diferença é que ele estava falando comigo. De ontem para hoje o sonho foi muito melhor, pois ele estava sorrindo, com um semblante de paz e ao lado do meu irmão Otávio. Eu me aproximava chorando do meu irmão, e meu me abraçou e disse: calma, tá tudo bem. De longe meu pai sorria e acenava dando adeus.

Talvez estes sonhos estejam ocorrendo com essa frequencia devido a o texto que me vem martelando na cabeça já faz uma semana. O texto foi criado depois de ver estas pessoas que estam segurando a bandeira de uma ideologia que mesmo sabendo que na prática está tudo errado, continuam achando que o que vale é não perder a ideologia. Pois bem, vou lhe contar o motivo pelo qual o Yuri Diogenes ex esquerda, militante virou direita e admirador do capitalismo.

Cresci com a imagem do meu Pai no Sindicado da UFC (Universidade Federal do Ceará), o qual foi parte da coordenação por quase 10 anos. Cresci indo para o comicio do Brizola (nas eleições de 89) e depois do Lula (no segundo turno contra o Collor). Cresci com meu Pai indo para o Natal na casa da minha vó vestido de Fidel Castro e chamado todo mundo de “companheiro”. Ao nascer meu Pai me deu o nome de Yuri, em homenagem ao Russo Yuri Gagarin, era a esquerda reinando dentro de casa. Eu tinha tudo para ser esquerda e adorar a ilha do Fidel.

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Uma das fotos do meu Pai palestrando em um evento do SINTUFCe.

Quando o Lula ganhou foi uma festa, todos achavam que a salvação tinha chegado, afinal era a esquerda no poder, tudo que sempre lutamos para ter, o povo no comando. Porém, com um ano no poder meu Pai já detectou que tudo estava caminhado contra a tal da “ideologia”, para começar com a mudança abaixo:

“Antes da aprovação desta lei, o trabalhador tinha direito a se aposentar e receber seu benefício integral ao completar 35 anos de contribuição. Desde então o movimento sindical luta pela extinção do Fator Previdenciário. Durante o governo Lula, o Congresso Nacional chegou a aprovar uma lei que o extinguiu, mas Lula vetou essa lei.”

Fonte: http://cspconlutas.org.br/2012/09/governo-quer-instituir-idade-minima-para-a-aposentadoria-de-60-para-mulheres-e-65-anos-para-homens/

Entre essas e outras meu Pai começou a se sentir traído pelo movimento, traído por quem tanto lutou e entendeu que a tal da ideologia não passava de uma fantasia vivida no papel e na teoria que ele tanto estudou e ensinou (tendo em vista que era Professor de História).

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Meu Pai na sua sala na Universidade Federal do Ceará, antes de entrar no Sindicato.

Quando apareceu a chance para mim vir morar nos Estados Unidos eu perguntei ao meu Pai o que ele achava e ele disse: “meu filho vá sem medo, siga seu destino e vença. Eu estava errado todos estes anos lutando por um ideal, uma filosofia que não existe além dos livros. Vá para um país capitalista e conquiste seu espaço.” Este foi sem dúvida um momento em que eu vi o que é de fato uma pessoa mudar. Nimguém tem idéia o que significa essa mudança, ver um fervoroso sindicalista de extrema esquerda perder totalmente o amor pela causa devido a sabiamente saber enchergar os fatos. Coisa que não é para todo mundo, pois hoje em dia ainda tem muita gente, mas muita mesmo que se agarra em um idealismo e não muda independente dos fatos ao seu redor. Nunca mais meu Pai votou pelo PT, Dilma então ele nem aguentava ouvir falar. Ele de fato mudou!

Meu Pai me ensinou que mudar é possível, mesmo quando vivemos uma vida inteira acreditando em algo que aparentemente é tão certo quando o dia que vai nascer. Meu Pai me mostrou que o valor do homem está em visualizar a mudança, digerir o orgulho, dizer quer errou, aceitar as consequencias e aconselhar ao filho a fazer diferente.

Mais uma vez, onde que que o senhor esteja: obrigado meu Pai por este legado!

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