É Pai, demorei para criar coragem para vir aqui falar sobre sua partida, demorou mais até mesmo que quando o senhor escreveu sobre o primeiro mês sem a vovó. Inspirou-me quando o senhor escreveu sobre o segundo mês sem a vovó e então resolvi que era hora de me manifestar, hoje um dia antes de completar 2 meses da sua partida. Às vezes, navegando pelos números da minha agenda no celular vejo (Fone Pai) e me lembro de que quando ligava para o senhor, a primeira coisa que dizia era: “Diga aí Mestre, tudo bem?”, confesso que nunca imaginei que sentiria falta de ouvir isso. Perdoe-me, mas ainda é difícil conter as lágrimas sempre que paro para pensar que realmente não vou mais ouvir sua voz, falar com o senhor sobre minha vida, ouvir seus conselhos e rirmos de algo que aconteceu. Nos últimos 10 anos nos vimos por 10 meses (1 mês por ano), o que é pouco, eu sei, mas lhe agradeço por sempre ter apoiado a minha partida para seguir meu rumo profissional e pessoal.
Nosso último jantar na foto abaixo ficará marcado para sempre, foi a última vez que tive a oportunidade de sentar na mesa com o senhor e ter uma refeição.
Nem tudo foram flores, o senhor sabe. Nós tivemos muitas diferenças no começo, muitas brigas que nos ajudaram a crescer juntos. O senhor também evoluiu muito depois que tomou conhecimento da cirrose. O seu belo texto “Que meu Futuro me Absolva” é a prova da sua mudança de pensamento e evolução. Nesta época o senhor estava morando sozinho e lembro-me que viveu um momento muito difícil, em Agosto daquele ano, nos dias dos Pais fiz o vídeo abaixo para tentar levantar seu astral e fico feliz que depois descobri que lhe ajudou muito.
O senhor evolui e tornou-se um apaziguador, foi covardemente chamado de “vampiro” pelo próprio sangue, que outrora lhe renegou. Porém, este talvez seja um dos fatos que mais me orgulho do senhor: nunca se vendeu! Não importava o preço que fosse oferecido ou quem oferecesse, pelo contrário, o senhor sempre galgou e construiu seus recursos baseado no seu esforço, e lembro-me muito bem disso. Lembro-me de um diálogo nosso quando eu tinha 16 anos e trabalhava na locadora de vídeos que o senhor tinha. Neste dia um cliente amigo seu falava que tinha comprado um carro para o filho dele que acabara de completar 18 anos. Quando ele saiu, eu lhe perguntei: “e aí Pai, vou também ganhar um carro daqui a 2 anos?”. O senhor olhou para mim e disse: “não, você vai ter que trabalhar para ter o seu.” Claro que o adolescente rebelde ficou com raiva na hora, mas este tipo de mensagem leva anos para ser interpretada com propriedade, e hoje eu digo que foi um dos melhores ensinamentos: trabalhar para conquistar e não aceitar “presentes” ou “ajudas” e ficar mau acostumado.
Eu ainda não tenho a dimensão da dor ou do vazio que vou sentir ano que vem quando for a Fortaleza, pois para mim a sua imagem ainda vai estar lá. Ir ao cemitério lhe visitar é algo que ainda não me entrou, não consegui ainda digerir isso. Lembro-me que quando falamos a última vez no telefone eu brinquei: “Pai, vai dar tudo certo...o senhor vai conseguir um novo fígado e vai ter uma vida normal.” Infelizmente não foi bem assim....eu te juro que não esperava, pois a figura do meu Pai forte, voz grave e lutador sempre me veio a mente. Sempre pensei: ele vai vencer mais essa. Mas Deus quis assim e hoje você está ao lado dos seus Pais e eternamente ao meu lado.
Queria terminar este texto meu querido Pai, tentando fazer algo que o senhor fazia com maestria, que era escrever Poesias. Perdoe-me pela pobreza das palavras e das rimas, porém é com muito amor:
A Partida e o Reencontro
Por Yuri Diogenes
O menino virou homem, cresceu
O poeta fez sua obra e partiu
O que será do menino que um dia existiu
Ao lembrar que seu mestre morreu
Porém o mestre não morreu, ele vive
O mestre vive na lembrança
Nas palavras e na esperança
Nos ensinamentos que sempre tive
Meu mestre perdoe-me pelas vezes que faltei
Continue a me guiar neste mundo
Mesmo que seja em conversas, em um sonho profundo
Saberás que para sempre de ti lembrarei
Tuas palavras ecoaram para sempre na minha mente
Teu legado há de ser honrado
Nosso presente apenas foi desviado
Mas um dia nós viveremos juntos novamente
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