sábado, março 22, 2014

Metade do Primeiro Ano

Hoje completam seis meses que meu Pai partiu, não sei ao certo se tenho a dimensão correta do tempo, pois não o vi no caixão, não vi o enterro e na minha memória a única imagem que tenho dele é vivo. Não sei ao certo como será meu re-encontro com ele, ou melhor, conhecer seu túmulo quando for ao Brasil. Talvez vai ser o momento de entender que essa fase da vida passou, agora ele é eterno e está sempre ao meu lado.

pai2

Muita gente pensa que sempre fui “apegado” com meu Pai, e a verdade é que não foi sempre assim. Meu Pai saiu de casa eu não tinha nem quatro anos completos, eu não tenho memória nenhuma do meu Pai brincando comigo quando criança, não tenho memória nenhuma de tomar um café da manhã com meu Pai ou dar um beijo nele antes de ir dormir. Todas minhas memórias de infância são com minha mãe e com minha vó Albertina, que morava conosco. Meu relacionamento de adolescente com meu Pai também não foi muito amigável, brigavamos muito, talvez por sermos parecidos em alguns aspectos.

Foi preciso eu crescer, formar uma família, ser Pai para de fato entender o quão importante é ter um Pai. Estou casado a 15 anos, e durantes estes últimos 15 anos foi que tive um excelente relacionamento com meu Pai. As vezes você precisa de fato crescer, ter sua própria experiência como Pai para entender os motivos que levaram seu Pai a fazer algo ou a não fazer algo. O tempo e a experiência lhe trazem paciência e saber, use-os da melhor forma possível.

Hoje, seis meses depois da partida do meu Pai, ainda tenho vários momentos de pensar nele, de sentir saudades de falar com ele, de ouvir ele dizendo: “diga aí mestre!”. Lembro-me de uma conversa que tivemos quando ele ficou sabendo que precisaria fazer uma transplante de fígado. Eu disse: “Rapaz, pense pelo lado positivo, o senhor vai ter um fígado novinho agora, só não pode voltar a beber viu!”, ele sorriu no telefone e disse: “É verdade meu filho”. Queria muito ter tido uma conversa com ele antes de ele ter partido, uma conversa onde nós pudessmos falar um para o outro, não como foi, que eu falava, ele ouvia mas não podia responder. Eu sei que ele ouviu tudo que eu disse, mas como é duro lembrar que não pude falar com ele pessoalmente e ouvir a voz dele pessoalmente. Seis meses se passaram, a vida continua, todos os filhos dele estam bem, e todos guardam uma grande lembrança do Pai que tiveram. Seis meses se passaram, a ferida vai sarando mas a saudade é eterna!

Para finalizar, achei um texto no Blog do meu Pai chamado “Eu Te Amo”:

Quando eu Morrer...

Não quero ninguém chorando, pois para onde vou não haverá choros, só quero que vc se lembre, se um dia chorou por alguém ou deu seu ombro para alguém chorar.

Não quero que ninguém diga que eu era um bom homem, pois o grande juiz estará me esperando para refletir sobre minha vida, só quero que você se lembre se um dia foi bom para alguém, se fez caridade.

Não quero ninguém lamentando que terá saudade, pois serei espírito, e estarei em todos os lugares, só quero que vc se lembre das vezes que conversamos e sorrimos juntos.

Não quero ninguém debruçado sobre meu caixão. Alisado meu rosto demonstrando amor, pois amarei a todos. Só quero que você se lembre se um dia me Disse “Eu te amo”.

Lendo este texto, gostaria de dizer ao senhor meu Pai: sei que nós não dissemos “Eu Te Amo” com a frequencia que deveríamos dizer, em 38 anos de vida, eu me lembro as poucas vezes que dissemos isso um para o outro, e talvez por isso que hoje em dia eu diga isso todos os dias para minhas filhas, para minha esposa e para minha mãe. As vezes precisamos errar por muito tempo para de fato aprender, nós erramos juntos e aprendemos juntos, cabe a mim agora passar este ensinamento as minhas filhas. Obrigado por me ensinar.

Fique em paz meu querido, te amo!

Nenhum comentário: